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25/04/2024

PALEONTOLOGIA

Pesquisas com tatu gigante no Museu da Memória projetam Rondônia no cenário dos fósseis brasileiros

23 de março de 2020 | Governo do Estado de Rondônia

Dois pesquisadores doutorandos em Ciências Naturais, Thais Matos Pereira Ferreira (UFRS) e Thomaz Pinotti (UFMG) conheceram em Porto Velho o crânio de um tatu gigante com idade avaliada em presumíveis 40 mil anos, o primeiro catalogado pelo Museu da Memória Rondoniense (Mero).

“Foi o primeiro fóssil, o especial Mero 001, único exemplar da espécie, designado por Holmesina rondoniensis”, disse na quarta-feira (18) a diretora da instituição, paleontóloga Ednair Nascimento.

O fóssil do tatu permitiu estudá-lo com detalhes: ele tinha aproximadamente três metros de comprimento.

A maior parte dos fósseis encontrados e que chegaram ao Mero é formada por ossos longos [fêmur, por exemplo], crânios e dentes, os que mais chamaram a atenção dos garimpeiros em atividade ao longo do Rio Madeira nos anos 1980. Há também alguns fragmentos de costelas de mamíferos.

Mestre em genética, aluno de doutorado da Universidade Federal de Minas Gerais, Thomaz Pinotti trabalha atualmente com a interface genética e arqueologia. Vive a maior parte do ano em Copenhague, capital da Dinamarca, onde estuda no Museu de Ciências Naturais.

“No momento visito o Brasil e toda a América do Sul, conhecendo coleções para ver a possibilidade de fazer estudos e analisá-los com colaboradores locais da Unir, do Museu da Memória, e outros pesquisadores que trabalham com a arqueologia de Rondônia na USP”, disse.

Anteriormente, Thomaz esteve em Manaus, e pela primeira vez que vem a Porto Velho. Acostumado com a Mata Atlântica, surpreendeu-se com a Floresta Amazônica. Acostumado a visitar várias instituições brasileiras, ele elogiou as coleções do Mero: “Elas estão incrivelmente bem acondicionadas em caixas, a reserva técnica é respeitosa, um recurso finito insubstituível por se tratar de material arqueológico”.

Thomaz disse que a preservação dos fósseis é boa, apesar de serem encontrados na Amazônia onde, segundo observou, o solo é ácido, quente e úmido. “O estudo é único nesta parte da Amazônia, não sabemos como serão, mas esperamos por resultados positivos”, disse.

Pesquisadora Thaís mede parte do crânio do tatu doado ao museu por um garimpeiro

REVISÃO TAXONÔMICA

A doutoranda da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pesquisadora do Museu de Ciências Naturais de Porto Alegre, Thaís Ferreira, viajou a Rondônia para prosseguir seus estudos a respeito de tatus primitivos de várias regiões do Brasil.

“Pretendo melhor elucidar estes estudos, e considero importante a idade dos fósseis”, ela disse.

A coleção do Mero atualmente está avaliada entre 40 mil e 45 mil anos, raridades na Amazônia Ocidental Brasileira.

“O estudo do pampaterídeo descoberto no estado de Rondônia visa compor uma revisão taxonômica* dos tatus gigantes ocorridos no Brasil e desenvolver uma hipótese evolutiva para o grupo dentre os mamíferos”, disse por telefone a pesquisadora.

Conforme explicou, esse estudo inclui a análise da tomografia craniana do fóssil, possibilitando o entendimento das cavidades internas do crânio a partir do preenchimento digital da caixa craniana.

 

“A pesquisa evidencia a importância de Rondônia para o estudo da fauna fóssil brasileira e para o desenvolvimento da pesquisa paleontológica em âmbitos nacional e internacional”, acrescentou Thaís Ferreira.

 

Thomaz Pinotti também vê assim, afirmando que Rondônia é uma das mais importantes regiões para a compreensão da arqueologia brasileira.”Possivelmente, ela seja a chave para entender a  expansão das populações tupi-guaranis, muito representativas no continente, cuja origem seria aqui nos rios Madeira e Guaporé, de onde se espalharam por toda a costa brasileira, na Bolívia, na Argentina, no Uruguai, no Paraguai”.

Thomaz Pizotti e Ednair Nascimento: pela valorização da pesquisa

“Tudo o que for estudado pelos colaboradores será compartilhado tanto em uso interno do museu, como para outras pesquisadores”, ressaltou.  Thomaz também se disse empolgado com o material do peixe-boi recentemente divulgado. “É um tesouro que aqui está; com mais estudos e pesquisas, esperamos desvendá-lo”, observou.

 

Defendeu a necessidade de investimentos para melhorar o Mero, e também a participação de indígenas junto com pesquisadores. “É a visão de dentro, a opinião deles, muito importante para nós. Uma nação soberana necessita da ciência e da tecnologia, precisa de estudos sobre si mesma”, afirmou.

De 2018 para cá, outros seis pesquisadores de diferentes instituições da Bahia, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Sergipe também  visitaram o Mero para conhecer e também estudar o acervo paleontológico.

DOS GARIMPOS DO MADEIRA

Em junho de 2018, a diretora Ednair Nascimento lembrava que, mesmo com o fim do garimpo de Araras demoraria um tempo a recuperação plena da flora de fundo e dos peixes daquela região. “São espécies que sofreram efeitos teratogênicos [anomalias e malformações ligadas a uma perturbação do desenvolvimento embrionário ou fetal], ou mutagênicos [que pode causar mutação]”.

Das cavas dos garimpos de Araras [margem direita do rio Madeira, no Km 40 da BR-425, em Nova Mamoré] e Periquitos, o desmonte feito com bomba hidráulica possibilitou o recolhimento da maior parte do atual acervo organizado pelo Mero.

O Mero fica no primeiro andar do Palácio Presidente Vargas. antiga sede do governo estadual.

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*  Taxonomia é a disciplina biológica que define os grupos de organismos biológicos com base em características comuns e dá nomes a esses grupos. Para cada grupo é dada uma nota. Os grupos podem ser agregados para formar um supergrupo de maior pontuação, criando uma classificação hierárquica.

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Fonte
Texto: Montezuma Cruz
Fotos: Edcarlos Carvalho e Museu da Memória Rondoniense
Secom - Governo de Rondônia

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